Projeto que transforma redes de pesca em artefatos culturais ganha o prêmio Design For a Better World
Com uma abordagem que une design, sustentabilidade e impacto social,
o projeto Fio das Águas reafirma o papel inovador do design brasileiro no cenário global
Direção criativa: Tiago Braga (@oiamodesign)
Artesãs: Associação das Mulheres Redeiras - Pelotas/RS
Foto: Lufe Torres
Na Colônia de São Pedro Z-3, localizada no extremo Sul do Brasil, terra regida pelas safras, as famílias têm o sustento calcado na pesca e no artesanato. São areias brancas com coqueiros alinhados que embelezam o cenário. Na colônia onde vivem cerca de 5 mil pessoas, o cotidiano gira em torno das águas da bela Laguna dos Patos. É neste local Com seus balneários Santo Antônio, Valverde e Balneário dos Prazeres, o Laranjal é banhado pela Lagoa dos Patos. O coletivo de artesãs da Associação de Mulheres Redeiras transforma redes de pesca de camarão descartadas em artefatos culturais.
Arroio Grande - RS - Fotos: Lufe Torres
A rede de pescar camarão é utilizada pelo pescador em torno de seis safras, período em que ela é exposta a água e ao sol por longo período, sofrendo desgaste e danos. Quando atinge um estado que não compensa mais ser consertada, o pescador descarta-a, deixando nos fundos dos galpões ou mesmo na rua ou beira de praia. Nós as recolhemos para, após longo processo de reciclagem, transformá-las no fio que será usado para confeccionar os objetos de memória através de diversas técnicas como tear, crochê e bordado.
O projeto Fio das Águas recicla cerca de 10 quilos de redes plásticas por cada série de luminárias produzidas. Além de reaproveitar resíduos, fortalece laços comunitários ao resgatar valores culturais e modernizar técnicas manuais tradicionais. O processo de produção envolve as artesãs na coleta, seleção e lavagem das redes. Após o beneficiamento, as redes são transformadas em fios, tingidas e tramadas por meio de técnicas como macramê e crochê para revestir as estruturas de aço galvanizado das luminárias. O resultado é uma experiência estética, orgânica e fluida, que se alinha aos princípios da economia circular ao reutilizar materiais e fomentar a inclusão social, mobilizando toda a cadeia produtiva, desde os pescadores até as artesãs. Tiago Braga, idealizador do projeto, reforça: "O design não é apenas sobre criar objetos, mas sobre transformar realidades, construindo pontes entre passado e futuro, cultura e natureza. O projeto Fio das Águas é uma celebração de identidade, pertencimento e cuidado com o meio ambiente."
“Redes que viram fio, fio que vira arte.”
Idealizada pelo artista e designer Tiago Braga, a Oiamo celebra mais uma conquista ao receber o Troféu Curupira 2024, na categoria “Design de Produtos, Serviços e Embalagens”, honraria concedida pelo Design for a Better World Award 2024. O projeto Fio das Águas foi premiado por transformar redes de pesca descartadas em luminárias sustentáveis e culturalmente significativas. Promovido pelo Centro Brasil Design, o prêmio, em sua quarta edição, reconhece projetos que geram impacto positivo e oferecem soluções inovadoras. A premiação aconteceu no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, no dia 28 de novembro de 2024.
Leve para sua casa histórias de vida tecidas com o fio que vem das águas, no encontro da Laguna dos Patos com o Oceano Atlântico, em forma de artefatos culturais do extremo sul do Brasil.